segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Psicoterapia ou Psicanálise?!

Ambas. Depende do que o "paciente" pretende atingir.

Sucintamente, poderemos abordar este tema referindo que a psicoterapia psicodinâmica ou psicanalítica baseia-se, sobretudo, nos princípios desenvolvidos pela psicologia psicanalítica.

O processo psicoterapêutico é - sobretudo - um processo relacional. Neste processo procura-se, através das associações do paciente e da compreensão das mesmas, que lhe é devolvida pelo psicoterapêuta, harmonizar os sistemas psíquicos de forma a promover uma melhor vivência psicológica e uma maior adaptação ao mundo externo. Visa a resolução do sofrimento psíquico, existencial e sintomático.

O objectivo da psicoterapia psicodinâmica, ou psicanalítica, é devolver (ou desenvolver) a qualidade de vida, que se apresenta limitada, nos pacientes que procuram uma psicoterapia desta natureza.

A psicanálise diferencia-se por consistir numa investigação mais aprofundada com o paciente sobre a natureza do seu sofrimento ou da sua perturbação. Digamos que a psicanálise é, de entre os processos psicoterapêuticos, o processo mais complexo e profundo que um paciente pode encontrar.

Diferencia-se ainda, a psicanálise, da psicoterapia psicanalítica, quer pelos seus aspectos técnicos específicos (por exemplo o número mínimo de sessões semanais), quer pelo objectivo de maior exaustividade na investigação do inconsciente. É particularmente indicada a futuros profissionais de psicologia e de psicoterapia, mas também a "pacientes" que desejem o maior aprofundamento possível na compreensão dos seus processos mentais, com o natural ganho em equilíbrio psicológico, lucidez e eficiência pessoal.

Ambos os processos são benéficos e eficientes, dependendo a escolha da disponibilidade do "paciente" depois de ouvida a opinião do profissional que tenha consultado.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

De Quem São os Brinquedos?

Recentemente deparei-me com uma questão que me foi colocada. Uma mãe questionava-se sobre a necessidade de oferecer parte dos brinquedos já não utilizados pelos seus filhos para distribuição por crianças carenciadas.

Se bem que meritória essa intenção deparou-se com dificuldade em a concretizar - ao fazer a escolha. Colocou alguns deles no espaço das crianças e, com surpresa, verificou que elas retomavam contacto rápido com esses brinquedos integrando-os nalgumas brincadeiras, manifestando gosto e alegria pelo reencontro. Estranhavam mesmo onde teriam estado esses brinquedos.


Esta situação não sendo nova para a nossa experiência clínica, nem para a Psicologia Psicanalítica, permite contudo algumas considerações que espero sejam úteis no aspecto educativo parental.


O que estava em jogo, e que esta mãe tão bem sentiu, é que os brinquedos infantis são muito mais do que simples objectos que servem para brincar por algum tempo. Na verdade eles inscrevem-se numa matriz psicológica de interacções intra-psíquicas e interpessoais onde as ligações afectivas desempenham um papel fundamental. Na verdade eles são elementos concretos que, pelas suas características particulares, facilitam a expressão da fantasia e a criação de representações mentais de objecto, carregadas de emoção e afecto. São mediadores - face à incapacidade de total abstracção e simbolização dos estádios precoces do desenvolvimento infantil - entre uma abordagem "concretizada" da fantasia e a interiorização dos elementos "simbólicos" com ligações afectivas. Podem assim representar muita(s) coisa(s) e muitos estados emocionais e afectivos.


O que esta mãe sentiu, naturalmente, foi que, para além da importância do chamado objecto transitivo (vulgo “urso se peluche”), também outros brinquedos são representantes importantes de condições afectivas e investidos com força afectiva pelas crianças (não será com certeza insignificante para esta compreensão que esta mãe tenha efectuado, numa certa altura da sua vida, uma psicoterapia psicanalítica).


Assim, pôde esta mãe sentir que, na separação, estes objectos concretos estavam relacionados - para ela e para as suas crianças - com outras separações. Estas eram de natureza mental, representativa, referenciando fortes ligações afectivas às condições passadas e presentes do “mundo interno” infantil. Verdadeiras “pontes” entre a realidade e a construção interna das formas e significados da “compreensão” individual dessa realidade.


De quem são então os brinquedos e quem tem o direito de decidir sobre a sua oferta? A resposta, na sua forma mais imediata, está naquilo que esta mãe sentiu ao perceber a importância que eles ainda revestiam para as suas crianças: os brinquedos são das crianças!


Como decidir então o oferecer desses brinquedos aparentemente já desadequados à idade das crianças? – Em conjunto com elas. Os brinquedos não são todos iguais nas atribuições de significados – importância – pela mente infantil. Haverá alguns que elas descartarão rapidamente. Outros de que precisarão de algum tempo para naturalmente poderem separar-se deles. Outros que, eventualmente, poderão querer conservar toda a vida, voltando a eles em certos momentos do seu desenvolvimento, ficando como recordações de uma infância feliz quando os reencontrarem em certos momentos da sua vida adulta.